sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

uniformizados

Que marzão que tava hoje, como um jeca de primeira, eu me joguei naquela imensidão, bom demais!



O que achei engraçado, foi a moda! As cores mudavam mas o modelo não. É baixinho, gordinha, louro, negra, quem fosse. Aí lembrei do ensaio sobre o Riso, do Bergson, quando ele diz lá que a moda devia ser risível, pra ele o que é vivo jamais se repete, e o que mais vemos é a repetição mecânica de um invólucro rígido, as pessoas podem não gostar, não ficar "bem", mas ali naquele "território do pensamento" foi criado um automatismo que produz mais uma unidade do que a diferença criativa.





As mulheres são as rainhas do "sacro-ofício" de ser mulher, usam um tipo de biquíni que parece uma rígida lembrança dos espartilhos, naquela pecinha ínfima (o que também é muito engraçado, todo mundo com pedaçinhos de pano cobrindo "as partes"!) um tipo de espuma que deixam os seios sempre duros, imóveis, porém dão um certo ar adolescente, que é a marca que boa parte do espírito do nosso tempo carrega, o culto a adolescência, a juventude, a longevidade, o desespero pela solução do enigma da morte e principalmente o da velhice (em breve desenvolverei mais esse assunto do "espírito do tempo").





O atavismo da aglomeração se mostra até hoje a condição mais eficiente em nos fortalecer como espécie, seja em bandos, clãs, reinos, comunidades ou cidades, esse carácter tem sido carta na manga dos totalitaristas, de Hitler e/ou Mussolini até o Marketing. A estratégia é a mesma, eles não tomam o poder a força, são eleitos, são levados até o poder, Hannah Arendt muito vidente percebeu que enquanto esse movimento estivesse estampado com a face dos fascistas e dos nazistas ainda saberíamos onde esse astuto dominador de mentes estaria, agora vivemos a época em que esse veneno se espalhou e adoenta até a saúde.


Assim vejo a moda. Totalitária, envenenante, com fortes alicerces naqueles que se dizem os criadores de conceito de nossa era, os marketeiros. São como uma praga de gafanhotos do pensamento, assim é a moda, ela é eleita, toma o poder pela beleza, tem algo que possa parecer mais singelo? Algo que seja o guardião do estilo? Ladrões cretinos da filosofia e da literatura, onde eles criam conceitos e estilos? Pra mim eles são piores do que as escolas, criam uniformes disfarçados de roupa. Afinal o que é uma roupa? Esse tipo de roupa que vemos hoje é uma invenção do inicio da Renascença. Já notaram como confeccionar uma roupa, "criar um estilo" e dentre outras peculiaridades, virou um saber, existem cursos e mais cursos, o "mundo da moda" é um dos tentáculos mais fortes do poder, pois esse tipo de saber como muitos outros nos foram retirados, passamos quase vinte anos no colégio e não sabemos costurar nossos cueiros nem aprendemos técnicas simples de primeiros socorros. Não se cria estilo nem conceito de porcaria nenhuma, é a tomada bárbara do território onde o pensamento possa contrariar o instinto de rebanho. É !Voltamos a ele! O rejuvenescido instinto de rebanho, a moda se veste dele, ele é o tentáculo do qual falei, do poder de controlar e consumir. Assim os seios das lindas meninas da praia foram consumidos pelo silicone ou pela espuma,não há um diferente, um meio caidinho, outro menorzinho, um grandão, um horizonte de uniformizados, apavorados diante do tempo.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ô, trem bom sô! Satisfiz o desejo de ter um blog pra sentar a pua! Hoje quero sentar a pua no instinto de rebanho( salve Nietzsche!) que domina a tal classe artística! Nunca vi gente com tanta vocação pra ovelha, e o berro deles é "GENIAL"! Se eu fosse um empresário lançava um papel higiênico com esse nome!
Fui convidado pra ir ao show de uma cantora por um amigo, um tiete, desses que adoram uma fila na porta pra dar pinta, antes de ir ao tal evento minha sensatez ligou o alerta e recorri a esta brilhante invenção que é a internet e fui até o tal site da cantora, foi um choque! A performance(esse tipo de "manifestação artística" é a moleza do fazer qualquer merda!) é assustadora, o desespero da "artista" é quase penalizante, são vinte bambôles, uma banana sendo chupada, cambalhotas e números circenses mal-executados e para arrematar ela fica pelada, muito criativo! E isso foi em Nova York, tá?! O que ela fez no Brasil é! O figurino de melindrosa com a pomba na cabeça!O pior mesmo,mesmo, é quando ela canta, depois de ser arrebatado por todas as peripécias da moça, falta um arroz com feijão pra dar força, é um mimimimimi de gato fraco, a gente pelo menos espera um vozerão depois de tudo, mas não! Vem uma cantora que ainda não almoçou. Ainda teve gente dizendo que essa moça é a "nova Carmem Miranda"! Socorro!!! Tudo bem que o repertório da Carmem pode ser chamado do que for, ela também, mas sem comparações por favor! Deixem a Carmem em paz! Não xinguem e batam em quem não pode se defender!

Claro que neguei o convite. De mim ela não verá nem um real! É o mínimo que posso fazer, poupar-me!


Tem um tal de Curió, Rolinha, Bicudo, sei que é nome de pássaro, não lembro qual, era uma ave de rapina!Sei que o tal é diretor de teatro aclamado! Fui convidada por um dos integrantes do seu "pré-estelar elenco", escolhido a dedos, unhas ou garras num concurso lançado pelo Sr. Rapina ( vou chamá-lo assim!), para assistir o espetáculo que foi realizado com esses "escolhidos". É apavorante. E as pessoas gostam. Os atores gostam. O Sr. Rapina é muito esperto, com um dinheirinho da Prefeitura ele recolocou sua imagem em cena, achou gente que não é mais gente é ovelha, mandou fazer fila na porta ( se não for desse jeito não é um acontecimento!) escolheu àqueles que mais tinham em si arraigado "o instinto de rebanho" adestrou, chamou uma equipe técnica (realmente técnica, produtiva, do grego tekné) que disfarçou e encheu de efeitos mágicos a pobreza intelectual e cênica do diretor e do elenco, o senhor rapina escoheu as ovelhas e tosqueou bem sua lã, e uma das críticas que li dizia que o maior mérito teria sido justamente essa habilidade de deixar tudo certinho, ninguém sobressai, nenhuma surpresa. Ainda ouvi da boca de Matilde que era GENIAL, teve crítico citando Bachellard, Valéry, Pirandello e Fellini para adjetivar o Sr. Rapina, que perfeitamente pastoreou suas ovelhas que acham maravilhoso, pois não podemos ver nada além do querer aparecer como tais, e o Sr. R. através de uma crítica a um comportamento, uma crítica moralista sim, sabe que aquelas pessoas não estão com ele e sim por ele, por isso investe contra elas e contra uma remota, mas possível, tentativa de rebeldia de uma ovelha (acho difícil também, ele já foi bem precavido desde o inicio, bem jovens, de diferentes lugares, desagregados, ele os salvou e os conduziu.), ele reforça ainda mais os padrões de "ideais de felicidade", torna tudo tão "humano" ( estão sendo necessárias todas as aspas, eu garanto!) meio engraçado e romântico que dá vontade de vomitar. Os sentados espectadores tem a "baba elástica e bovina" rodriguiana. Esse foi o momento da minha "madeleine", quando me vi entre ovelhas e bovinos me senti de novo lá na fazenda, mas a diferença me atropelou num repente, lá as ovelhas e as vacas são vacas e ovelhas, a gente também sabe, elas não sei se sabem, aqui as pessoas ficam tentando com fervor serem vacas e ovelhas, mas não são e sabem que não são, mas mesmo assim continuam unidas tentando a qualquer custo, ao custo do tempo precioso de suas vidas, contemplando, vendo, sentadas, caminhando na mesma direção, fazendo cabriolas tristes, enquanto a vida está aí dando baile com salão vazio, sem dançarinos que tornem obras de arte a si mesmos.